Venho ao teu encontro de pés descalços tocando a areia, a passos lentos não tenho pressa, olhar ao longe no horizonte, sem visível expressão, emudecido pela emoção, rosto entregue a brisa calma, sentindo a pura alma e o ímpeto da tua causa...
Eu sinto! [...]
Tu és incrivelmente lindo e seduz-me cada vez que olho para dentro de ti. Não estou falando do que podemos avistar com os olhos num reles olhar, mas falo do que há abaixo da superfície, no teu interior profundo e misterioso. Nesse mover-se de dentro para fora quer falar, no soprar dos ventos e dos marasmos da vida as ondas quebram violentamente na tentativa de dizer-me algo, mas não é nessa superficialidade que está o que quer dizer-me de verdade, não nesses gritos, não com esta violência no falar...
Eu escuto! [...]
Eu caminho na tua direção e os pés...
Na verdade nem quer dizer-me, quer esconder-me seus mistérios, seus segredos náufragos, envoltos em areias profundas do seu interior. Há fantasmas que ainda insistem em assombrar , todos temos, eu sei... as lembranças, as dores tantas que queres sucumbir em um Tsunami e acabar com tudo. Olhas de volta e queres engolir-me, apenas por ousar adentrar-lhe o íntimo.
Eu sei, eu sinto... [...]
Peço: - acalma-te! Estou aqui a ouvi-lo, senti-lo, como nenhum outro ousou.
Não despedaces-me num ato só, apenas para demonstrar que é capaz de fazê-lo. Eu já o sei que és, só de senti-lo quebrar nas pedras. Registra ali tuas dores. Eu lançaria-me nelas também, mas não sou como tú... tão forte e profundo, tão doce e azul...
Dizem que és salgado, e de tanto, amargo ficaste, mas eu nego e nego. Beberia-lhe todo apenas para demonstrar como és doce quando na minha boca estás...
-Reclino-me levemente e o toco com a ponta dos dedos, arrepio e pêlos....
É muito forte o que sinto, uma outra vez já senti-me com esse mesmo calafrio e temo estar correto quanto ao que sinto. Que medo tenho agora, sozinho... sentindo...
-Viro-me dando-lhe as costas, vou embora, sem pressa, volto...
Estremeço cada vez que sou levado em pensamentos... como um rio ao encontro, inevitável, do seu mar.
"Se não queres naufragar, não te lances ao mar, se não queres ferir-te, procures não amar. " Tiago Medeiros ©
[escrevi este pensamento originalmente na data de 15/08/09 ás 15:49, porém só agora resolvi publica-lo.]